Vamos falar da tão temida formatação de roteiro?
Você já desenvolveu a escaleta do seu projeto, ou finalizou o argumento e a storyline do seu roteiro. Até que… chega o momento de escrever o roteiro propriamente dito!
Bom, já devo adiantar que não, você não escreve um roteiro para filme ou série no word. Existem programas específicos para isso, no final desse post eu indico alguns. Mas esses programas existem para nos ajudar a seguir o padrão respeitado, no mundo todo, para escrita de roteiro: o Master Scenes.
Esse formato existe para que cada página de Roteiro representa um minuto de tela. Isso funciona sempre? Claro que não. Se você tem muito diálogo, dá menos tempo, se tiver muita ação, demora mais. Tudo depende, mas o formato master scenes deve ser respeito para que 1) você tenha uma ideia de quanto tempo, mais ou menos, o filme terá; 2) o documento seja legível por todos da produção. E por todos, eu digo, todos mesmo. Não é feito só pro roteirista, mas também pro ator, pro diretor, figurinista, plateau, montador…
Já adianto pra vocês que formatação é um assunto extremamente metódico e cheio de regras. Quase militar. Pra absolutamente tudo que eu falar aqui: não fiquem querendo inventar a roda. Não se inventa nada em formatação de roteiro audiovisual. Além disso, por conta de ser um conteúdo que também é extenso, eu não vou abordar tudo nesse post. Eu preparei um curso completo e detalhado sobre formatação, por um preço super especial, você pode entrar na fila de espera clicando aqui.
Mas vamos começar! Primeiro de tudo: a fonte é sempre Courier, tamanho 12. A fonte é sempre essa (até na capa). Não, você não pode mudar a fonte. Não, você também não pode mudar a cor da fonte. Passado esse primeiro elemento, a gente precisa entender que um roteiro é composto de três elementos principais: o cabeçalho, a rubrica (ou ação) e o diálogo.
O cabeçalho
Vamos começar pelo cabeçalho (que talvez seja o mais cabuloso por conta de todas as suas variações). Ele é dividido em três partes: Tipo de Locação (Interna e/ou Externa); Nome da locação; e momento do dia. Começando pela primeira coluna, que é a primeira parte: INT. ou EXT. Não se esqueçam de que internas são mais baratas do que externas, e prefira utilizar elas se você está começando sua carreira. Existem casos em que pode ser Externa e Interna ao mesmo tempo? Sim. Por exemplo, se você tem uma cena que se passa dentro e fora de um carro, com um personagem dentro do carro e outro do lado de fora (câmera fica dentro e fora), aí você usa INT./EXT. ou I./E..
Segunda parte do cabeçalho: o local. Aqui não tem mistério, galera: você precisa ser o mais breve possível. Exemplo: Casa da Bea. Não é “Casa fofa da bea”, nem “casa feia da bea” (jamais!), você não adjetiva o local no cabeçalho a não ser que seja MUITO importante para a caracterização do ambiente. Por exemplo, se eu escrevo “mansão mal assombrada”, vale à pena caracterizar, porque o pessoal da produção de locação vai ler e já vai saber que precisar procurar (ou fazer) um local que tenha “cara” e mal assombrado. Mas, novamente, você só caracteriza no cabeçalho se for muito importante para a narrativa.
A terceira parte do cabeçalho é referente ao tempo: Dia ou Noite. Parece simples, né? Mas, como tudo em formatação de roteiro, a gente sempre pode complicar! Você vai me dizer aí: “Bea, eu quero uma cena no por do sol!”. Primeiro, pense bem se você realmente quer isso, porque essas cenas do tipo “amanhecer”, “crepúsculo”, “entardecer”, são difíceis de gravar. Então você precisa ter uma defesa muito boa para essa cena porque é MUITO caro. Essa terceira coluna também pode ser usada para trabalhar questões de continuidade, inserindo tempos como CONTINUOUS ou MAIS TARDE.
É isto que você precisa saber para compreender melhor do que se trata o cabeçalho.
Pronto, encerrei de fala de cabeçalho. Ainda tem muita coisa que dá pra falar, mas eu vou fazer outros vídeo sobre porque não dá pra fazer num vídeo só. Agora vamos falar de Rubrica ou Ação.
A rubrica na formatação de roteiro
A rubrica é como chamamos as descrições que, obrigatoriamente, devem vir abaixo do cabeçalho (você não pode pular direto para o diálogo). Ou seja, “Maria chega”, “Maria está com um vestido preto”, “Maria está chorando”: tudo está na rubrica. É tudo aquilo que está acontecendo visualmente na tela, o que a gente vai estar assistindo. Inclusive, é na rubrica que a gente sabe se o cara é amador ou se ele é roteirista mermo.
E nós não podemos esquecer das suas máximas que existem quando estamos falando de rubrica: primeira, roteiro não é literatura; segunda, não se escreve nada que não é “filmável”. Eu gosto de falar isso porque esse costuma ser o maior problema dos roteiristas iniciantes aqui no Brasil, principalmente porque, aqui, a gente tem uma herança literária forte. Isso significa que nós adoramos dizer que o personagem pensa, ou que o personagem está sentindo sentimento X na rubrica. Isto não pode! Dizer que um personagem X está pensando ou sentindo tão coisa não é algo “filmável”, percebe? Assim como você também não pode descrever que “as folhas de orvalho recaem sobre o cabelo de Maria como um dia ensolarado do verão europeu.”. Evite metáforas!
Pense, antes de tudo, em mostrar o sentimento desse personagem com ações. Se o seu personagem está sentindo ansiedade, arranje maneiras de demonstrar isso por meio da ação; aliás, roubar no jogo e colocar no diálogo que ele está se sentindo mal não é uma alternativa legal também. E, por falar em diálogo, ele é nosso próximo tópico.
O diálogo na formatação de roteiro
Felizmente, é o mais simples pois tem menos variações. Mas, como nada em formatação de roteiro é simples, vocês já podem imaginar que, no fundo, este “mais simples” só quer dizer “menos complexo”. Você tem dois elementos muito importantes aqui: o nome do personagem e a fala, e você pode ter um terceiro elemento que é o parêntesis. Nome do personagem é sempre um só você não pode variá-lo ao longo do roteiro. Ou seja, se a sua personagem é Maria Luíza, mas todos os outros personagens a chamam só de Maria e todo mundo da produção a conhece como Maria, o nome dela no diálogo deve ir como Maria. Maria e somente Maria. Não vai ser Maria Luíza numa cena, nem só Luíza em outra, o nome do seu personagem deve permanecer o mesmo durante todo o roteiro. Se é roteiro de série, ele permanece o mesmo durante toda a série. Por exemplo, se vocês checarem o nome do protagonista de Breaking Bad, é Walter White do piloto até o series finale no roteiro, não muda.
Segundo elemento do diálogo é a fala. Aqui é simples: o que o personagem diz naquele momento. Tudo que o personagem falar deve estar registrado aqui. Inclusive sons de onomatopeia, por exemplo. E o terceiro elemento que compõe é o parêntesis, que pode ou não estar no seu diálogo e significa uma indicação para algo que ator deve fazer naquela fala. Já vou adiantar, é preferível que você fuja do uso do parêntesis. Quando é bom usar parêntesis? Quando você quer indicar movimento durante a fala ou alguma entonação que não está clara na rubrica e que precisa ser marcada.
Bom, era isso que eu tinha pra compartilhar com vocês sobre formatação.
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