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Piloto de série: princípios fundamentais.

O primeiro capítulo de uma série se chama piloto justamente por se tratar de um episódio teste, que irá colocar à prova o design narrativo proposto pelos roteiristas e o engajamento do espectador com o produto. Por conta disso, a boa prática narrativa indica que os elementos mais importantes da história devem ser revelados logo na apresentação do enredo. O piloto é a grande matriz da série, detentor da essência do que será contado por infindos episódios. 

Estruturalmente, para alcançar certo êxito, o primeiro episódio de uma história plot-driven, contada de maneira serializada, deve cumprir determinados critérios essenciais: apresentar quem é o protagonista e qual é seu dilema moral, introduzir o conflito central enfrentado por este personagem e revelar qual tema será explorado na obra. Além disso, também é essencial, já no piloto, esclarecer ao público qual gênero, tom e estilo serão imprimidos na série, pois serão estes elementos que, a longo prazo, irão contribuir significativamente na importante manutenção do senso de unidade do projeto. Atender esses princípios é fundamental, pois é no primeiro episódio que o projeto estabelece um contrato invisível com o espectador que, convencido do conteúdo assistido, será motivado a acompanhar os próximos capítulos. Conforme sustentam os autores do livro “Séries – De onde vieram e como são feitas”, Jacqueline Cantore e Marcelo Rubens Paiva, tudo tem de estar no piloto, pois “é a origem da história e o estabelecimento da franquia que podem se repetir ad aeternum, como uma nota promissória para o espectador: volta na semana que vem, ou veja o próximo, porque você vai saber mais sobre essa gente, seus segredos, seus sonhos, suas idiossincrasias…” (CANTORE; PAIVA, 2021, p.126). 

Esses mesmos autores também defendem que o episódio piloto de uma série pode ser encarado como um LIDE, famoso recurso, amplamente utilizado no texto jornalístico, para responder as essenciais perguntas sobre um fato, ou nesse caso, uma história: O quê?/ Quem?/ Quando?/ Onde?/ Por quê?. Entregar essas respostas, no arco do primeiro episódio, garante que o espectador também decodifique de imediato qual será a jornada de aprendizado que será desenvolvida ao longo de toda a série. Contudo, apresentar e explicar todos esses elementos, especialmente informações sobre o universo da história, de maneira satisfatória, impõe algumas implicações, como não tornar o enredo demasiadamente expositivo. Uma valiosa dica para driblar esse vício narrativo é evitar excessivos diálogos ou a presença de narradores, preferindo ações estritamente dramáticas, protagonizadas pelos personagens, como acontece no bom exemplo da aclamada série “Succession”, transmitida nos canais da HBO. No episódio de apresentação deste tv show, somos introduzidos aos detalhes da empresa Waystar Royco, que irá servir de cenário e palco para todos os conflitos da série, através do personagem Greg, interpretado pelo ator Nicholas Braun. No episódio piloto, acompanhamos o primeiro dia de trabalho do distante primo Greg na preponderante Waystar Royco, empresa de seu tio avô. Ao iniciar sua carreira, como animador de um dos parques de diversão da companhia, Greg assiste a um vídeo institucional de treinamento e boas-vindas aos funcionários. Neste cena, junto com Greg, o espectador também aprende o funcionamento das regras deste novo universo. 

Por fim, mas não menos importante, é valioso esclarecer que a boa narrativa recomenda que o público seja conquistado ainda nos primeiros minutos do piloto. Para isso, uma estratégia amplamente utilizada por grandes roteiristas é iniciar uma história antecipando, em flashforward, um corte das cenas de maior tensão dramática do episódio, geralmente próximas ao clímax. Este recurso, por exemplo, é brilhantemente utilizado na premiada “Breaking Bad” do criador Vince Gilligan e, mais recentemente, na série brasileira “Os Outros” de Lucas Paraizo.

REFERÊNCIAS:

CANTORE, Jacqueline; PAIVA, Marcelo Rubens. Séries – De onde vieram e como são feitas. O livro. Rio de Janeiro: Schwarcz, 2021.

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